Lula no jatinho, mau começo!, por Bruno Santos

Não é apenas sobre no pânico fiscal que a transição de governo começou com pé esquerdo, mas também na velha desconhecida da política brasileira, a moralidade. Lula viajou de carona ao Egito, onde ocorre a Conferência da ONU sobre mudanças climáticas, a bordo de um jatinho. Tudo bastante promissor, não fosse: o jatinho pertence a José Seripieri Filho, empresário que pagou R$200 milhões para ressarcir os cofres públicos em acordo de delação.

Se Seripieri nada deve à Justiça, tudo certo. Se não surgirem relações contratuais duvidosas do governo federal com o empresário futuramente, melhor ainda. Mas é de bom tom admitir que não é um bom começo, porque é justamente na fragilidade ética que reside a maior apreensão ao novo presidente. Numa disputa moral um tanto hipócrita, há os que ressuscitam o caso dos 37 quilos de cocaína transportados à Espanha, por um ex-militar, em vôo da comitiva presidencial 2019. Mesmo sem envolvimento de Bolsonaro, o caso respingou em sua reputação. A ingenuidade bate à porta dos que crêem que dá pra passar pano pra Lula.

É claro que no caso do jatinho da FAB existe um crime (na carona de Lula não há crime), mas ambos são casos sobre fronteira entre público e privado. Tráfico de drogas é crime, e tráfico de influência também. A esquerda, enquanto grupo político, sempre denunciou a conversão dos governos em balcões de negócios da burguesia; então, não é hora de fechar os olhos, a falta de olhar crítico é má conselheira. O caso do jatinho do empresário é, no mínimo, aborrecedor, já que nem se deu início ao novo governo. Não há dúvidas de que os brasileiros serão rigorosos no republicanismo da nova equipe, e é assim mesmo que deve ser.